(Distribuído na categoria financeira do RJ)
No mês de junho acontecem os congressos sindicais que formulam as nossas exigências de salário e condições de trabalho. Esses congressos são organizados pela confederação que reúne os sindicatos do ramo financeiro, a CONTRAF-CUT. A maioria das direções sindicais da CONTRAF é do PT, o que é muito importante para o que vamos falar mais adiante.
Os bancários são a única categoria no Brasil que tem uma Convenção Coletiva Nacional. Ou seja, todos os bancários do país têm os mesmos direitos. Isso impede que os banqueiros dêem menores salários e benefícios para os trabalhadores onde o movimento sindical seja fraco, e usem isso para chantegear os outros sindicatos do país para aceitarem a mesma coisa. O índice e as outras reivindicações são decididos no congresso nacional da CONTRAF, e os representantes que vão a esse congresso são eleitos em encontros estaduais abertos, feitos em fins de semana.
Há muitos anos as campanhas salariais se tornaram uma mera rotina, quase sempre com greves, mas com poucos resultados positivos. A categoria bancária tem sido fragmentada pela terceirização, as demissões são constantes, e o assédio moral cria graves problemas psicológicos em muitos bancários. E para piorar, muitas vezes os sindicatos se tornam trampolins para "fazer carreira" política.
Será que o movimento sindical só pode lutar por pequenos reajustes anuais e deixar tudo o mais como está? Será que é esse o único papel possível para os sindicatos?
Nós achamos que a prática da maioria da direção da CONTRAF leva a categoria apenas a pequenas conquistas, enquanto os bancos mantêm a sua rotina de enxugamento de pessoal e terceirização, que coloca todos os direitos em risco constante.
Diante disso, a solução não pode ser desistir de tudo. Devemos lutar para formar uma direção alternativa no movimento sindical, que leve a defesa da classe trabalhadora até as últimas consequências, sem ter medo de tomar medidas radicais. Ou seja, devemos formar uma Oposição Classista no movimento!
É importante entender o funcionamento do movimento sindical, porque muitas pessoas não o conhecem direito. Por isso, não percebem que qualquer índice baixo exigido é decidido nos congressos, antes das assembléias. Ou seja, a única forma de mudar o rumo atual do movimento sindical é se organizando desde o começo, permanentemente.
Isso é o contrário da atitude do Movimento Nacional de Oposição Bancária (MNOB, dirigido pelo PSTU), que ignora esses congressos pra depois atacá-los no meio da greve. Além disso, o MNOB é contra a Mesa Única, ou seja, a negociação conjunta com todos os bancos, públicos e privados. O PSTU, ao fazer isso, acaba dividindo a categoria, criando a ilusão de que uma campanha salarial só dos bancos públicos poderia ser melhor. Isso é totalmente errado, porque o movimento (ou a ausência dele) nos bancos privados é determinante para o resultado de qualquer greve.
Ultimamente a própria a CUT e a CONTRAF têm falado que o ramo financeiro é muito mais amplo que a categoria bancária, incluindo os terceirizados da vigilância, securitários, dos serviços gerais, da informática etc.
Primeiro devemos dizer que a terceirização, além de ser uma forma de super-explorar os trabalhadores (através de salários baixíssimos e quase ausência de direitos), ainda por cima reproduz o machismo e o racismo da nossa sociedade. A esmagadora maioria dos terceirizados são mulheres e negros, que ganham bem menos e têm menos direito do que os bancários. Assim, como parte da super-exploração do trabalho terceirizado está diretamente ligada a essas formas de opressão, a luta contra a terceirização é também uma luta anti-racista e anti-machista.
Mas, apesar de seu discurso, a CUT e a CONTRAF pouco têm feito para organizar esses setores, que sequer possuem sindicatos. Hoje em dia, depois de mais de vinte anos de terceirização, é impossível avançar em qualquer luta no setor financeiro sem integrar os terceirizados nas greves e assembléias! A maior prova disso são as greves que vem ocorrendo desde 2003, em que os bancos não abrem, mas continuam com o sistema funcionando e vendendo produtos.
Por isso, defendemos que os sindicatos filiem os terceirizados e os organizem! Só organizando em massa os terceirizados é possível atingir alguma vitória da categoria financeira! (no caso dos bancos privados, a organização dos terceirizados e até mesmo dos próprios bancários deve ser feita através de comissões de empresa clandestinas, já que existe muita perseguição)
É preciso que o movimento sindical rompa com o petismo!
Para nós, a posição em relação ao governo do PT determina todas as outras. Como a maioria dos sindicatos são dirigidos pelo PT, eles diminuem o tom das críticas para preservar a estabilidade do governo. Ao fazer isso, eles usam o argumento de que Lula é uma defesa contra a volta da direita (PSDB-DEM) e que levar a luta pelas nossas reivindicações até o final poderia desestabilizar o governo frente à oposição reacionária.
Logicamente, nós da Oposição Classista defendemos a luta através de greves, ocupações de terras, passeatas etc., contra todos os setores da classe dominante. E sabemos que o partido preferencial dos grandes empresários é o PSDB.
Mas o governo Lula não é um governo dos trabalhadores! Ele foi formado desde o começo em aliança com os partidos dos patrões, como o PMDB e o PR, que contam com vários empresários em suas direções e votam várias medidas contra os direitos dos trabalhadores no Congresso Nacional. E por depender dessas alianças para se manter no poder, Lula e o PT nunca vão atender às nossas reivindicações além do ponto em que os patrões aceitem.
Por isso, defender o governo só pode levar ao recuo e à derrota das lutas! Não podemos aceitar a quase chantagem de ter que votar no PT todo ano para impedir “a volta da direita”, como está acontecendo agora com a candidatura de Dilma Roussef, sem ver nenhum problema estrutural da sociedade ser resolvido.
Justamente por isso nós da Oposição Classista defendemos a ruptura com o petismo e a construção, a longo prazo, de um partido revolucionário que realmente lute por um governo direto dos trabalhadores, estabelecido a partir de uma revolução socialista. Para nós, essa é a única forma de resolver os problemas estruturais da sociedade: tomando o poder dos patrões e defendendo, nós mesmos, nossos interesses de classe.